Qual é a melhor sala de aula?

Por Sérgio Porfírio Diretor do Grupo Balão Vermelho  | 04 de fevereiro de 2022

O início do período letivo é momento de grande expectativa para alunos, pais e educadores. O espaço escolar é um lugar onde a individualidade e o anonimato são fontes para a formação do coletivo e enriquecimento da convivência social que ali se instala.  Sendo assim, o papel da família e da escola  na educação das crianças, na construção da autonomia, na rotina de estudos e trabalho e, principalmente, no reconhecimento e respeito ao diferente, não deve ser concorrente, mas sim debatido, com o intuito de se tornar agregador.

No início do ano letivo, os educadores se empenham em fazer uma enturmação que contribua para o desenvolvimento dos(as) alunos(as), respeitando as questões cognitivas e socioemocionais de cada um.  Assim, caminha toda escola comprometida com a sua função, buscando promover ambientes salubres de trocas para que os alunos aprendam e construam sua autonomia.

Contudo, um ponto que deve ser observado com a devida cautela é o aumento da demanda das famílias, na tentativa de intervir na escolha da sala de aula dos filhos. Natural, em certa medida, que isso aconteça, principalmente com relação às crianças mais novas: por serem, às vezes, os caçulas ou até mesmo filhos únicos, o ingresso à escola gera um pouco mais de ansiedade e insegurança, mas com o passar dos primeiros dias de aula, esses sentimentos perdem a intensidade. Porém, tem-se percebido a mesma angústia em famílias de alunos mais velhos, adolescentes, o que pressupõe que essa intervenção familiar sinaliza a preocupação com bem-estar de seus filhos independentemente da idade deles.

Nesse momento, é importante abrir a seguinte reflexão: a demanda pelo privilégio de escolher a sala do(a) filho(a) é um sintoma de parte da sociedade atual, e toda demanda social é legítima se analisada a seu tempo.  

Entretanto, não é correto pensar que autonomia deve ser dada ao filho(a) ou ao aluno(a), quando na verdade ela deve ser desenvolvida, trabalhada. A maioria de nós, nos diversos espaços pelos quais circulamos, convive com pessoas com pensamentos diferentes, culturas distintas, afetos e desafetos. Não muito distante, como no próprio trabalho, nas festas familiares e rodas de colegas, nos defrontamos com essa diversidade e, sem comprometer nossos contatos, temos que “engolir sapos” e nos posicionar de forma a dar continuidade a esses grupos, que são necessários à nossa existência enquanto sujeitos sociais. Desenvolvemos essas habilidades, convivendo com o outro, enfrentando situações adversas, fazendo escolhas, nos construindo como indivíduos;  e não através de livros de autoajuda ou aplicativos.

A autonomia que deve ser incentivada em casa é diferente da que a escola pode promover e oferecer às crianças e jovens. Na escola, trocar, se identificar, se relacionar, se diferenciar e até mesmo se estranhar é natural e sadio, porque é o espaço do coletivo. Quando se trata de respeito à individualidade do(a) estudante, trata-se de momentos no coletivo, quando educadores conseguem identificar aquilo que lhes é singular: é no todo que cada um emerge e suas peculiaridades podem receber a devida atenção. 

Construir ambientes para que a criança cresça, sendo respeitadas as suas características pessoais, convivendo com as diferenças e transitando em diversos espaços com autonomia e conhecimento, é o que deve ser priorizado pela instituição de ensino contemporânea responsável com o seu papel de formação de sujeitos pensantes. 

Além da autonomia, é importante que família e escola, juntas, debatam o conceito de individualidade, que é muito diferente do de exclusividade,  em que é retirado o direito de convivência da criança com o diverso, do entendimento do mundo que a cerca e da construção de sua própria identidade. 

O amor de um pai ou de uma mãe faz do(a) filho(a) um ser único. O grande desafio, no entanto, está em perceber que esse amor não pode transformá-lo em exclusivo no grupo, distanciando-o da realidade.

As escolas estão desconstruindo seus muros, ressignificando os saberes, se abrindo para outros espaços e para múltiplas formas de aprendizagem. Isso porque a melhor sala de aula que se pode ter é o mundo, e nele,  se encontra de tudo!

 

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