O papel da escola na formação de leitores críticos

por Cristiane Motta, Tutora  |  04 de março de 2022

Formar leitores críticos tem sido um grande desafio para as escolas, sobretudo nestes tempos atuais, em que tantas mídias têm permeado o universo das crianças e jovens, despertando interesse e curiosidade. Promover ideias criativas para incentivar a leitura sempre foi uma orientação pedagógica do Balão Vermelho - escola particular de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio, de Belo Horizonte.  

Por aqui, sempre fomos incentivados a pensar qual é a importância do ensino da literatura na escola. Para nós, promover a habilidade leitora e de escrita perpassa todos os conteúdos e, por isso, os livros habitam muitos espaços da escola, ganhando vida quando são levados para a sala de aula e dialogam com as aprendizagens promovidas. Acreditamos que a leitura encanta quando um/a professor/a se diverte lendo e faz viver os personagens, os enredos e os cenários, quando o texto vira um grande bate-papo pelos corredores, quando um aluno pede o livro para levar pra casa, quando uma roda se forma ao redor de um pequeno leitor que mostra para seus colegas seu objeto de encantamento. O livro sai para passear quando um leitor já adolescente caminha pela escola quase tropeçando, com olhos fixos na história. Cenas muito cotidianas e gostosas de assistir!

Todos os anos, promovemos uma festa literária chamada Giroletras, na qual congregamos os acontecimentos e as experiências literárias que ocorrem dentro da nossa escola. Recebemos autores e conversamos sobre livros (tanto os favoritos quanto os menos impactantes), sobre as ilustrações e os ilustradores, sobre modos de ler e rotinas de leitura e sobre a interseção entre a leitura de um livro e a leitura do mundo. Nesse evento, divulgamos também as leituras dos estudantes, reafirmando o quanto a literatura é importante na nossa prática. Temos como um norte inegociável a ideia de que ler ajuda a promover o conhecimento, a elaborar perguntas e indagações, tornando-se um passaporte fundamental para que as crianças e os jovens possam conhecer o mundo de forma crítica e repleta de imaginação, essa incrível habilidade humana de sonhar e criar novos universos.

Para nós, o texto pode estar dentro do computador ou do livro de papel. Jornais, revistas, livros virtuais, livros físicos, gibis, entre outros, podem circular pela escola, assim como por cada casa da nossa comunidade escolar, promovendo, além do hábito da leitura, boas experiências. E cabe à escola apresentar não só diferentes gêneros, mas também os diferentes portadores de textos. Não à toa, nas aulas virtuais, tivemos que nos reinventar. Quem não se lembra da voz dos/as professores/as imitando os personagens para fazer a leitura chegar na casa dos alunos durante o ensino remoto? Para muitos estudantes, esse era o momento mais esperado da semana! Fizemos até Giroletras virtual e nos emocionamos, porque ler junto emociona mesmo.

De volta ao presencial, no entanto, decidimos ter de novo o livro físico como objeto central, tanto que a biblioteca está no coração dessa escola, fortalecendo-se como espaço de convívio e troca de saberes. Impossível atravessar nossos corredores sem ser convidado a olhar para esse espaço onde promovemos rodas de leitura, contações de histórias, entre outras propostas de literatura que fazem parte do nosso cotidiano.

Na escola discutimos muito sobre os desafios na formação de leitores. Não podemos fechar os olhos para tantas mudanças no mundo contemporâneo. Formar leitores  é também ensinar a buscar fontes mais seguras de pesquisa, ensinar a duvidar, a interpretar e a não ser um alvo fácil na sociedade de consumo. Mais do que nunca, os procedimentos de pesquisa precisam fazer parte da formação do aluno-leitor. Discutir literatura, ampliar as fontes de leitura e a capacidade interpretativa do leitor é essencial. Poder discordar, confrontar e opinar é uma garantia obrigatória nessa formação. Aprendemos a ler e a interpretar,  garantindo liberdade de pensamento e discernimento.

E há uma pergunta que ronda a nossa prática de leitura: será que precisamos gostar sempre do que lemos? Não! Aqui aprendemos que podemos questionar e criticar também. Nem sempre vamos ler só o que gostamos e nem sempre todos vão gostar de ler. Ainda assim, precisamos incentivar. Esse incentivo é um importante objetivo da escola, mas não é papel só dela. As famílias também podem estimular o leitor, visitando bibliotecas e livrarias, mostrando as suas leituras e principalmente lendo para os filhos e as filhas ou conversando sobre o que eles andam lendo.  Partilhar a leitura pode virar um delicioso momento de afeto, de compreensão (de si e do mundo), de conversa e de acolhimento.

E como a escola pode contribuir para a formação do leitor crítico, que questiona o que lê, confronta opiniões e reflete sobre as escritas do mundo de forma respeitosa?  Em tempos de tantas fake news, saber ler criticamente, buscar fontes seguras e conhecer os autores é essencial. Ser professor/a é também estar atento a isso. É entender como o texto atravessa cada estudante e como tem sido suas leituras e interpretações dos mais variados tipos de textos, sejam eles literários ou não. Além disso, é estar atento também aos desafios novos de um planeta hiperconectado a toda velocidade, sem perder de vista a importância da sensibilização pela arte, pela poesia e pela literatura, o que nos ajuda inclusive a entender que nem tudo o que lemos está correto e deve ser replicado sem questionamentos. 

  Por essa razão, pensar literatura no espaço escolar é pensar cuidadosamente nos livros escolhidos. É preciso ser criterioso na escolha dos textos, das ilustrações, do projeto gráfico e das fontes. O mediador de leitura deve considerar todos esses aspectos, a fim de proporcionar o que é crucial na formação do leitor: a autonomia, a criticidade, o prazer de ler e a capacidade de criar relações entre o que é lido e vivido, entre as suas experiências e o mundo externo, entre texto e contexto. 

Para nós, não há outra forma disso acontecer. Precisamos ler muito, conhecer o que estamos apresentando para os estudantes, abrir espaço para as discussões, dar tempo para as perguntas, instigar a curiosidade do leitor e estimular o respeito às diferentes opiniões. Mas as opiniões não podem nunca se sobrepor ao cuidado e à ética com o humano. E tudo isso uma boa roda de leitura pode ajudar a promover! Boas histórias podem nos ajudar a dialogar sobre temas complexos da atualidade e  a pensar sobre eles, ajudando a compreender um pouco mais do humano e da nossa história.

A escola precisa ser um espaço de constante leitura e diálogo. E por aqui, lemos todos os dias.  Assim como Sherazade fazia nas “Mil e uma noites”, às vezes, nós também paramos o livro na melhor parte da história, porque amanhã tem mais.  E sempre terá mais! Mais leitura, mais conversa, mais oportunidade de dialogar, de questionar e de interpretar o mundo em que vivemos!

 

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