Juventude pós-isolamento: uma aposta de quem cuida

Por Simone Gomes Diretora do Grupo Balão Vermelho  |  13 de julho de 2022

 

"Estavam diante de um caminho alagado. Sob a superfície da àgua, não era possível ver nada que não fosse o céu azul. Ainda assim, o próximo passo trazia a possibilidade dos abismos. Mas alguma música já se podia ouvir.”

Tudo é rio.

Carla Madeira

 

Desde o início do ano, aqui no Grupo Balão Vermelho, Escola construtivista em Belo Horizonte, a observação e investigação dos impactos do isolamento social em nossos jovens e crianças têm feito parte das nossas discussões pedagógicas. Com o propósito de compreender  alguns comportamentos dos alunos e das alunas do Ensino Fundamental IIEnsino Médio e pensar ações que proporcionem a reconstrução da convivência no ambiente escolar, reunimos um grupo de profissionais que cuidam da saúde mental e do corpo para nos ajudar na construção de um plano de acolhida, inaugurando novos espaços de diálogo. A esse movimento demos o nome de Projeto Bem Viver e, a partir dele, conseguimos entender de forma menos superficial os desafios dos jovens sem a mediação das câmeras.

O ambiente coletivo escolar ficou em suspenso por quase dois anos e a retomada do convívio, mais próximo do que existia antes, exigiu, de crianças e jovens, competências sociais que não foram desenvolvidas. Somado a isso, as transformações do corpo e o enfraquecimento dos laços de amizade, tornaram o retorno presencial um momento de angústia. Lidar com a realidade dos corpos, serem vistos e ver o outro provoca insegurança. Porém, não dá mais para fechar as câmeras.

Outro ponto a ser considerado é a intensidade do tempo de convívio em casa. A alternância dos momentos entre a família e os pares da rua e da escola é fundamental para “arejar” as experiências da adolescência. Ao crescer, os jovens precisam construir habilidades que os deixem confortáveis para fazer suas escolhas pessoais. Essa construção é desafiadora. É preciso coragem, pois nem sempre se sabe o que funciona ou dá certo. Em um contexto sem isolamento, esse processo acontece de forma gradativa, socialmente. Estar com os pares e em pequenos grupos dá suporte e modelo, porém nada disso foi possível durante a pandemia. 

Diversos sentimentos invadem o momento da retomada. Alguns deles, quando combinados dentro da escola, podem criar um tensionamento entre as formas de comportamento no espaço público e  no espaço privado. A euforia do encontro e a dificuldade em dosar as  experimentações e dar vazão às experiências represadas colocam como centro do trabalho pedagógico a discussão sobre o eu, o outro e o coletivo. Afinal, a casa foi invadida pelo mundo externo, fazendo com que alguns limites ficassem tênues. Embates, transgressões, enfrentamentos têm surgido com maior intensidade nas escolas e é preciso que os adultos conversem e entendam suas causas. 

Tudo isso é o resultado de uma adolescência confinada que agora ganha novos ares. Entretanto, a escola pode extrair desses impasses e desafios, força de intervenção para se repensar e construir ações voltadas para o um e para o grupo, acolhendo, colocando limites e ajudando no entendimento de que escolhas produzem consequências. Adolescer é um processo que demanda atenção e cuidado para, assim, chegar à confiança.

 

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